OK, eu amo-te - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Início Outros Diversidades Artigo
OK, eu amo-te

Os dicionários de SMS e do léxico da Internet são dos mais mutantes de entre os inventários lexicográficos. Tendo em conta a realidade em causa – o inglês –, saiba porquê, lendo esta crónica de Miguel Esteves Cardoso, no Público do dia  6 de Janeiro de 2010, que aqui se transcreve com a devida vénia.

 

 

O Telegraph [de 2 de/01/2010] gritava: Traditional English spellings could be killed by Internet, says language expert. Só porque David Crystal disse que, daqui a umas décadas, o conjunto de convenções da actual ortografia inglesa será substituído por um novo conjunto de convenções, com origem na Internet, nos SMS, etc.

Há para chorar e para agradecer nos dicionários SMS e Net de língua inglesa. A expressão da indiferença melhorou. Começou antes da Internet com o perene whatever. Na Net diz-se meh e significa «isso não me interessa». É um encolher de ombros.

Até no OK houve progressos. Digitar só K mostra que é um acordo mole, tipo «se-tu-o-dizes». É um whatever de uma letra só e reproduz o OK pouco convencido de quem diz só kay em vez de oh kay. É bonito porque a letra K pronuncia-se kay. O OK fica para quem está mesmo de acordo. E, quando alguém está a insistir connosco, há o KK, que corresponde ao Okay, Okay! É, em duas letras, o «pronto, pronto; cala-te lá com isso!»

Há acrónimos bons, como SSDD (same stuff, different day), LIC (like I care) e FICCL (frankly, I couldn"t care less).

O contrário da indiferença é o amor. Gosto de 143 e de 831. 143 dito em voz alta é I for three. Tirando o último R, dá I for thee. Thee é a forma antiga e poética de you. Logo, 143 quer dizer I love you. 831 é melhor ainda. Significa: 8 caracteres, 3 palavras, 1 significado. Ou seja, a frase I love you.

Fonte

in Público, de 6 de Janeiro de 2010

Sobre o autor

Nasceu em Lisboa em 1955. É doutorado em Filosofia Política, pela Universidade de Manchester, Inglaterra. Desde 2009 escreve diariamente no Público e, em 2013, passou a ser autor da Porto Editora, a quem confia a obra inteira. Publicou entre outros: A causa das coisas (1986), O amor é fodido (1994), A vida inteira (1995), Explicações de Português (2001). Mais aqui.