Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tive necessidade de consultar o vosso site e fiquei com uma dúvida:

Ele rege-se ou não pelo novo Acordo Ortográfico?

Foi a escrita de fim-de-semana que me chamou a atenção.

Resposta:

O Ciberdúvidas passou a adotar o Acordo Ortográfico só a partir da sua entrada em vigor no sistema de ensino português, em setembro de 2011 – razão por que, até essa data, todas as respostas e demais textos disponíveis em arquivo mantiveram a anterior grafia com que foram escritos. É o caso, portanto, da locução fim de semana, agora sem hífen, e antes com hifen.

Vide BASE XV: DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES

Pergunta:

É correto escrever "Estado-Maior-General" com dois hífenes? Ou será antes "Estado-Maior General"?

Resposta:

Há oscilações no uso de um segundo hífen, mas recomenda-se que este ocorra, tal como se verifica no sítio do Estado-Maior-General da Forças Armadas de Portugal. Note-se, contudo, que os vocabulários ortográficos atualmente disponíveis não atestam a palavra composta em questão.

Pergunta:

Gostaria de saber qual é a pronúncia correta das palavras meritocracia e decaimento. Meritocracia pronuncia-se "mèritocracia" com o e aberto, ou deve antes pronunciar-se com o e fechado como a palavra democracia? E decaimento deve pronunciar-se "decàimento" com o ditongo ai aberto, ou "decaimento" com o ditongo fechado?

Resposta:

A palavra meritocracia é relativamente recente no português (mas já se encontra registada na 1.ª edição, de 2001, do Dicionário Houaiss), o que significa que, para mais, na variedade europeia, se torna difícil neste momento avaliar o estatuto normativo da pronúncia desta palavra. Há, neste momento, no português de Portugal, várias possibilidades, que vão da aplicação estrita da regra de redução vocálica em sílaba átona à pronúncia, como abertas, das vogais do elemento merito-, que não é mais que a palavra mérito tratada como radical. De forma intuitiva, direi que me parecem frequentes as seguintes pronúncias: "mèritòcracía" (e e o abertos átonos e acento tónico em ci) e "meritòcracía" (com o chamado e mudo na primeira sílaba, o aberto átono na terceira e acento tónico em ci).

Refira-se que a palavra pode ser encarada como um aportuguesamento da palavra inglesa meritocracy, adaptando-se os constituintes desta, que têm origem latina (merit) e grega (cracy), à morfologia que é típica do português (mérito + -cracia; cf. Dicionário Houaiss, onde se diz que a palavra portuguesa é um composto motivado por meritocracy).

Quanto a decaimento, não há hesitação, mesmo em porttuguês europeu; pronuncia-se "deca-i-mento", isto é, articulando as vogais correspondentes às letras a e i separadamente, como acontece com a palavra , sem ditongo.

 

 

Pergunta:

Medicação, ou medicamentação?

Resposta:

O Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora, acolhe medicação, mas não regista medicamentação. Diz que medicação vem «do lat[im] medicatio, -onis», tratando-se de «administração de medicamentos».

O Dicionário Médico, de L. Manuila, A. Manuila e outros, edição da Climepsi Editores, também regista apenas medicação, considerando que é «utilização terapêutica de um ou mais produtos medicamentosos, com uma finalidade bem determinada», a exemplo de «medicação da tuberculose».

O Vocabulário Ortográfico do Português [VOP] do Portal da Língua Portuguesa acolhe as duas formas, medicação e medicamentação, sem indicar preferência por qualquer delas.

A Infopédia regista medicação («ato de medicar», «emprego de remédios» e «terapêutica»), mas nada nos diz sobre medicamentação.

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista medicação

Pergunta:

Já pesquisei no vosso site, mas não parece haver resposta para a minha questão:

Hoje em dia, aplica-se a palavra brasa ou braza para pessoa muito gira? É com um s, ou z, isto é, aquela mulher é uma grande brasa, ou braza?

Resposta:

A palavra brasa escreve-se com um s, tanto habitualmente, quando quer dizer «carvão ou lenha incandescente, sem chama», como coloquialmente, na aceção referente à sua pergunta («pessoa fisicamente atraente ou excitante»).

Metaforicamente, brasa ainda quer dizer «desejo ardente; paixão, ardor». Na linguagem popular, usa-se para referir alguém do sexo  feminino fisicamente muito atraente (ex.: ela é uma brasa)..

O vocábulo brasa vem «do germ[ânico] ocid[ental] *brasa, "fogo"» [in Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora].