O peso das palavras - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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O peso das palavras

Em Guerra na Língua, o lingüista Ruberval Ferreira analisa as estratégias dos discursos oficiais e midiáticos, em torno do 11 de Setembro.

Como a criança curiosa que desmonta o brinquedo, para desvendar os mistérios de seu funcionamento, o lingüista Ruberval Ferreira coloca diante de si seu objeto. Os ecos imediatos da série de ataques terroristas em solo norte-americano, que ficou conhecido pela data do acontecimento — 11 de setembro (de 2001) —, na cobertura da grande mídia e no discurso oficial do Governo Bush, são assim analisados. Professor do curso de Letras e do Mestrado em Ligüística Aplicada da UECE, Ferreira exibe o resultado desta curiosidade desconstrucionista em Guerra na Língüa: mídia, poder e terrorismo.

Ruberval Ferreira procura tornar evidente a construção de conceitos nos discursos que tomou como objeto. «Na pesquisa, me perguntei: a partir de que estratégias são construídos estes conceitos?», explica. Para responder a questão, o próprio o autor fez uso de estratégias. Primeiro, escolheu duas vozes que representassem a grande mídia. No caso, os jornais brasileiros Folha de S. Paulo e O Globo. Dos textos publicados diariamente nos dois veículos, observou em detalhes o material editorial e alguns artigos de opinião. «Acredito que é ali que se encontra, de forma mais evidente, o discurso daquele veículo jornalístico», justifica.

Outra estratégia, foi a tal “desmontagem”. A análise de discurso empreendida por Ruberval Ferreira é marcada pela influência da filosofia da linguagem, que não a toma como um fenômeno isolado, mas contextualizado e em um relação dinâmica com outras esferas do sociais. Um de seus referenciais na área é o inglês John L. Austin, autor do célebre estudo Quando dizer é fazer. Nele, o filósofo toma a linguagem como um campo não apenas significados, mas de ações. Não é difícil, pois, entender a importância de compreender linguagem como ação na pesquisa de Ruberval Ferreira.

Afinal, o autor, doutor em Lingüística pela Universidade de Campinas (Unicamp), mostra como todo o discurso, oficial e midiático, sobre o 11 de setembro foi construído tendo em vista ações futuras. Estas se concretizaram nas invasões norte-americanas dos territórios afegão e, mais tarde, iraquiano. No centro das investidas, a disputa por uma região estratégica, rica em petróleo. «Para alguns analistas, esta agenda já estava determinada antes mesmo dos acontecimentos de 11 de setembro, mas o governo dos Estados Unidos precisava de uma justificativa para colocá-la em prática. A forma como este evento foi sendo construído chegou a legitimar um discurso de guerra», explica o pesquisador.

Fonte

in Diário do Nordeste, 29 de Maio de 2008

Sobre o autor

Dellano Rios (Fortaleza, 1982), formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará e mestre em Sociologia pela mesma universidade, é jornalista profissional e investigador. Atualmente exerce funções de editor e de professor do curso de Jornalismo da Faculdade Cearense. Editou o livro O Povo Fez sua Santa.