É ocasião para dizer: as voltas do mundo são fonte inesgotável de inspiração para a criatividade linguística. No caso, a imprensa brasileira. Ainda em choque com a copiosa derrota da sua seleção (7-1) com a alemã, numa das meias-finais do Campeonato Mundial de Futebol de 2014, eis que um neologismo – Mineiraço – decalca Maracanaço, nome próprio evocativo de outra histórica derrota do Brasil. Como se formaram estas palavras? Tudo remonta a 1950, quando também se disputava o Mundial de Futebol (ou Copa) no Brasil, e a seleção do país anfitrião perdeu com o Uruguai na final. Logo a imprensa hispano-americana batizou o acontecimento de Maracanazo, com base em Maracanã (do tupi maraka`na, «espécie de papagaio»), nome do estádio onde se realizara o jogo; e facilmente surgiu depois o registo aportuguesado dessa memória funesta, porque existe o sufixo -aço, que forma aumentativos geralmente com valor pejorativo (cf. Dicionário Houaiss). Passados 64 anos, aparece Mineiraço (e, em espanhol, a forma paralela Minerazo), criado a partir de Mineirão (estádio de futebol de Belo Horizonte, cenário do mais recente revés), com a adjunção do referido sufixo. A inovação lexical tem destas crueldades...
A propósito de notícias sobre Nicolas Sarkozy, presidente da França entre 2007 e 2012, causa surpresa a palavra roscambilha, usada pelo jornalista e escritor Rui Cardoso Martins, na sua crónica "Baixinho à altura de França", publicada na revista 2 do jornal português "Público", 6/07/2014. O linguista e crítico literário Fernando Venâncio não deixou de assinalar a inventiva, com conclusões curiosas («Olha, uma palavra nova»), na sua página de Facebook: o vocábulo parece neologismo construído sobre o regionalismo moscambilha, mascambilha ou mescambilha, «trapaça», «fraude» (cf. Dicionário Houaiss).
No programa Língua de Todos de sexta-feira, 11 de julho (às 13h15* na RDP África; com repetição aos sábados, depois do noticiário das 9h00*), entrevistam-se o deputado português José Ribeiro e Castro, sobre o Manifesto 2014, e António Carlos Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, acerca de uma nova exposição interativa em homenagem a Eça de Queirós. O Páginas de Português de domingo, 13 de julho (às 17h00* na Antena 2), tem uma conversa com a linguista Margarita Correia sobre o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, a apresentar na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Díli em 23/07/2014; e dá voz à professora Maria Regina Rocha, da equipa do novo Programa e Metas Curriculares de Português do Ensino Secundário, para um esclarecimento sobre a presença das obras da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen nos programas escolares** de Portugal. Esta emissão inclui as rubricas "Palavrar", de Ana Sousa Martins, e "Ciberdúvidas Responde", conduzida por Sandra Duarte Tavares.
* Hora oficial de Portugal continental.
** Ainda sobre o propalado “desaparecimento” da obra de Sophia de Mello Breyner Andresen das aulas de Português do ensino secundário em Portugal, leia-se o desmentido da coordenadora da equipa do novo Programa e Metas Curriculares de Português do Ensino Secundário, Helena Carvalhão Buescu, no jornal Público deste dia: “A presidente da Associação de Professores de Português deve andar muito distraída". Assinale-se que o programa de Português em vigor no ano letivo de 2013/2014, no ensino secundário, foi homologado em 2001, para o 10.º ano, e em 2002, para os 11.º e 12.º anos, embora só tenha passado a abranger todos os anos da disciplina a partir do ano letivo de 2005/2006. Neste programa não se mencionam as obras de Sophia de Mello Breyner, nem há referência à sua leitura obrigatória ou facultativa. Observe-se ainda que as obras de Sophia de Mello Breyner fazem parte, no entanto, do programa da disciplina de Literatura Portuguesa, que não é obrigatória, pois integra a componente de formação específica do currículo que se encontra definido até esta data para os cursos científico-humanísticos do ensino secundário.
A presente atualização abrange ainda as rubricas O Nosso Idioma, que reproduz um texto sobre a relação da atualidade financeira de Portugal com a palavra família, e Lusofonias, que acolhe um artigo sobre o modo como tem evoluído a CPLP (ambos respigados do jornal português "Público", com a assinatura dos jornalista Rita Pimente e Nuno Ribeiro, respetivamente). Recordamos que o consultório está interrompido até setembro, razão pela qual o formulário para envio de dúvidas não está disponível (para outros assuntos, é favor contactar-nos nestes endereços). Entretanto, continuamos a pôr em linha artigos sobre a língua portuguesa ou respostas que aguardam divulgação. Mantêm-se igualmente acessíveis todo o nosso extenso arquivo de respostas e os mais diversos textos sobre o português (consultar pelo motor de busca).
A Ciberescola da Língua Portuguesa e os Cibercursos têm recursos para o apoio do ensino e da aprendizagem do português (língua materna e língua não materna) e mantêm abertas as inscrições em aulas individuais para estudantes estrangeiros (Portuguese as a Foreign Language). Mais informações na rubrica Ensino.
Um último ponto: ajude-nos a enfrentar os custos de manutenção deste serviço prestado graciosamente e sem fins lucrativos a quantos querem saber mais e usar melhor a nossa língua comum na sua diversidade. Um grande bem-haja pelo seu contributo.